A terra oca

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Pois bem, agora que pouca gente ainda surfa na onda da Terra plana, por que não relembrar a história da Terra oca? Afinal, oca ou plana, a Terra, — nossa casa —, é vista dessas e de outras formas faz tempo. Conceber o que não se percebe em um primeiro olhar é o início do pensar filosófico. Por outro lado, filosofando ou não, nosso planeta dá muito trato à imaginação, esse verdadeiro alimento do espírito, me atrevo a dizer. Então, como já se fala menos de Terra plana, vamos à Terra oca.

 

Imagino eu que os leitores não ignoram a Teoria da Terra Oca, crença pseudocientífica que sugere que a Terra é oca por dentro e que seu interior é repleto de cavernas, oceanos e até mesmo de civilizações. Essa história teria começado no século XVII com o trabalho do astrônomo e matemático inglês Edmund Halley (1656-1742), que admitiu que a Terra fosse composta de várias esferas concêntricas, cada uma com sua própria atmosfera e habitada por seres inteligentes. Ah, Halley é, sim, o cara do cometa, que foi também matemático e amigo de Isaac Newton. Só não me digam por aí que ele defendeu a Teoria da Terra Oca tal e qual ela é difundida atualmente. Nada disso. Lembrem-se sempre de que parecido não é igual e devemos evitar generalizações pouco inteligentes, imprecisas e precipitadas.

 

Sim, a teoria moderna da Terra oca foi influenciada pelo trabalho do astrônomo e matemático inglês Edmund Halley. Halley foi famoso por suas pesquisas sobre cometas, mas também estudou outros fenômenos astronômicos e geofísicos, incluindo a estrutura interna da Terra. Halley, em seu livro “Synopsis of the Astronomy of Comets”, publicado em 1692, discutiu uma ampla gama de assuntos astronômicos, incluindo o movimento dos cometas e a estrutura do sistema solar, e apresentou sua teoria sobre a estrutura interna da Terra. Ela seria formada por várias esferas concêntricas, cada uma com seu próprio campo magnético. Quanto a ser habitada por seres inteligentes, eis uma hipótese plausível naquele tempo, se considerarmos as crenças populares da época sobre a existência de um mundo subterrâneo habitado. Mas que fique claro que Halley não defende a teoria da Terra oca da mesma maneira que os proponentes modernos dessa teoria.

Então, sejamos “precisos”, porque buscar a precisão é essencial à vida e à navegação, se é que me entendem: navegar é preciso… Nesse contexto, apesar de sua antiguidade e de sua popularidade em algumas correntes de pensamento esotérico, a Teoria da Terra Oca carece de base empírica ou científica. Muito ao contrário, a maioria das evidências geológicas, físicas e astronômicas sugere que a Terra é sólida e não possui grandes cavidades internas, infelizmente. Digo isso porque seria divertido excursionar pelo centro da terra e, por que não, fazer turismo pelas cidades perdidas. Tudo especulação. Eu mesma, sinceramente, adoro imaginar como seria dar uma voltinha por lá, encontrar o tal buraco de entrada, descer por ele e dar de cara com cidades perdidas, seres inteligentes, outras civilizações. Enfim, o que seria da vida sem a imaginação?

E a imaginação funciona. Com o tempo, a Teoria da Terra Oca foi se ampliando e ganhando adeptos, dentre eles, o famoso almirante Byrd. Já ouviram falar dele? Imagino que sim! Ele foi o cara! Richard E. Byrd teria realizado uma expedição secreta ao Polo Norte em 1947 para investigar a entrada para a Terra oca. Toda história teria sido registrada no diário do almirante Byrd, mas… Alguém adivinha? Pois é, dizem que o governo dos Estados Unidos teria confiscado o diário e ocultado a informação do público. Seja como for, Byrd fez várias expedições ao Ártico e à Antártica ao longo de sua carreira, mas não há evidências de que realizou uma expedição secreta ao Polo Norte em 1947 nem de que encontrou a tal entrada para a Terra oca. Pode-se também afirmar que, à época, a tecnologia disponível não seria adequada para uma expedição desse tipo. Mas confesso que é bom imaginar que, sim, o diário existe e alguém algum dia o trará para algum Arquivo, onde esse documento precioso poderia nos revelar tantos segredos. Eu mesma guardaria aqui em casa esse diário, sem problemas.

Todavia, não temos o diário nem sabemos se Byrd achou o buraco, ou melhor, a entrada para o mundo subterrâneo. Ainda assim, não custa nada procurar saber o que dizem os defensores dessa teoria, porque eles sempre costumam dizer coisas interessantes. Inacreditáveis, é verdade, mas, nem por isso, menos instigantes. De acordo com os defensores da Teoria da Terra Oca, o interior do planeta é habitado por seres inteligentes, que vivem em cidades subterrâneas e que se comunicam através de sistemas avançados de tecnologia. Tais seres descenderiam de uma civilização antiga que teria habitado a superfície da Terra antes da sua ocupação atual pela humanidade.

Por que não sabemos disso “oficialmente”? Ora, porque a existência dessas cidades é mantida em segredo por governos e organizações poderosas, que não querem que a humanidade tenha acesso ao conhecimento e tecnologia que elas possuem. Naturalmente, vocês já ouviram falar de pelo menos duas dessas cidades, já consagradas por sua popularidade: Agartha e Shambala.

 

Os habitantes de Agartha, por exemplo, vivem em uma sociedade altamente tecnológica.  São seres pacíficos que ajudam a humanidade de maneira sutil, por meio de suas habilidades psíquicas. Não é improvável que os habitantes de Agartha controlem secretamente os destinos da humanidade. Quanto à Shambala, trata-se de um reino secreto habitado por seres iluminados que guardam a sabedoria espiritual e a tecnologia avançada. Que vontade me dá de flanar por essas cidades, quem sabe na companhia de Walter Benjamin? Não conheço ninguém melhor do que ele quando se trata de sair por aí, sem documento nem bagagem.

Excesso de imaginação? Sim, sem dúvida. Eu tenho muita imaginação, confesso. Imaginação e ceticismo de sobra por aqui, a

liás. De minha parte, acho a Teoria da Terra Oca menos chata que a Teoria da Terra Plana. Gosto de imaginar como seria a tal entrada para o Mundo Subterrâneo e as mil aventuras que, verdadeiras ou não, pouco importa, são viagens inspiradoras e contagiantes, repositórios culturais, demasiadamente humanos, talvez. Afinal, como diz um querido amigo meu, meu materialismo não me limita, nem a minha imaginação. Não mesmo!

 

                                                                                             

 

                                                                                                 Por Maristela Bleggi Tomasini

 

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