Uma obra que não pode morrer

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Em 1993, já no final da carreira como membro da Polícia Militar da Bahia, Edmilson Santos Ferreira de Carvalho, O Zé da Lode, era portador de uma enorme bagagem de conhecimento do seu povo. Conhecia todas as feridas da sociedade. Sabia onde estava a miséria, o crime, as injustiças; a dor! E foi essa bagagem que o levou inicialmente a participar da Sociedade dos Vicentinos, instituição de caridade ligada à Igreja Católica e com forte atuação no município. Mas isso ainda era pouco para ele. Junto com um grupo de amigos, teve a ideia de, com o objetivo de tirar crianças da rua, criar uma Guarda Mirim. O projeto consistia em colocar essas crianças em sala de aula e, ajudado por amigos, ex-colegas e ex-professores, baseado na disciplina militar que lhe ensinou a ser cidadão, ministrar aulas de boas maneiras, civismo e cidadania. Os cursos duravam doze meses e as crianças eram aproveitadas para trabalhar no comércio local durante quatro horas diárias recebendo 45% do salário mínimo, valor esse estipulado pelo Juiz de Direito da época.

Com a ampliação do número de crianças participantes, em 2000, Zé da Lode foi convocado pelo juiz Obed Bento de Araújo Miranda e pelos promotores David Galo e Luciano Silva Assis, para prestar esclarecimento sobre seu trabalho. A partir da primeira audiência, recebeu total apoio das autoridades judiciárias que inclusive lhe orientaram para criar uma instituição que desse cobertura àquela atividade, o que resultou na fundação da ACACEC-Associação da Criança e do Adolescente da Comarca de Euclides da Cunha. O próprio juiz e o promotor lhe orientaram na confecção dos estatutos e passaram a ajudar com subvenções oriundas de multas.

A Guarda Mirim cresceu e aquelas crianças que muitas vezes estiveram nas ruas cometendo infrações, agora estavam impedindo que outras crianças fizessem o mesmo. A realidade já era palpável. Na rua, cerca de setenta Guardinhas uniformizados, exerciam a cidadania e ainda levavam para casa um salário justo pelas quatro horas de trabalho.

Em 2003, de passagem por Euclides da Cunha, uma fiscal do Ministério do Trabalho notificou a ACACEC para comparecer à sede de Salvador para prestar esclarecimentos sobre o que ela considerou “trabalho que violava o Estatuto da Criança e do Adolescente”. A notificação gerou um clamor geral da sociedade local, conhecedora do trabalho da ACACEC. Mobilizaram-se pais, autoridades, políticos, comerciantes e solicitaram da autoridade maior da Delegacia Regional do Trabalho, uma audiência pública em Euclides da Cunha, o que foi atendido com a presença do procurador Jairo Sento Sé, que, apesar de considerar que as atividades da ACACEC e comerciantes eram incompatíveis com o Estatuto da Criança e do Adolescente, concluiu da boa-fé dos seus diretores e cancelou todas as notificações. Entretanto, estava desfeito sonho da Guarda Mirim.

Instrumentos musicais esperando futuros músicos

 

 

 

 

Mas não estava desfeito o sonho de proporcionar àquelas crianças um futuro melhor.

 

 

 

 

 

A partir daí, Edmilson passou a criar oficinas que pudessem prepara as crianças para a vida colocando-as em convívio saudável e lhes ensinando alguma profissão.

Através de doação feita pela Sociedade dos Vicentinos da qual Zé da Lode fora membro, a ACACEC recebeu na localidade de Chão Vermelho, nos arredores da sede do município, uma área de cinco mil metros quadrados onde “como formiguinhas” foi se construindo a sede da instituição. Inaugurada em 2010, a sede conta com quatro pavilhões que somam aproximadamente 1.500m², onde foi instalado: biblioteca, auditório, salas de aula, cozinha, refeitório, almoxarifado, alojamentos,

 

masculino e feminino, cada um com vinte leitos, além de uma horta orgânica, e campo de futebol.

O projeto que a burocracia legal quase minou, transformou-se num modelo disputado por centenas de crianças que frequentaram aulas de informática, escola de música, oficinas de corte e costura e, além da própria Guarda Mirim, uma escolinha de futebol que chegou a contar com mais de setecentos alunos, alguns deles já selecionados pela escolinha de futebol do Esporte Clube Bahia. Um detalhe de enorme importância, é que para frequentar a ACACEC, o aluno teria de estar na escola regular, ter boas notas e comportamento exemplar.

 

10 máquinas de costura de última geração acabam de chegar na ACACEC

O que é a ACACEC Hoje – Pois, o tempo passou, os apoios foram se tornando escassos. Mesmo assim, com recursos próprios e a ajuda de alguns empresários locais, o projeto foi levado à frente, contando no início da pandemia, com a frequência de mais de cem crianças e adolescentes. Durante os dois anos seguintes, as atividades foram suspensas e a manutenção das instalações foi custeada, praticamente com os recursos do seu fundador. Atualmente, a ACACEC está atendendo, com enorme dificuldade, um pequeno número de alunos, mas falta o básico para que se mantenha em funcionamento. A organização sem fins lucrativos que já teve uma grande participação no dia-a-dia da cidade, com sua bem-educada guarda mirim, que promoveu por vários anos o “Natal Solidário”, levando um sorriso ao rosto de tantas crianças humildes, que acolheu e orientou centenas meninas e meninos que hoje são bons profissionais, pais e mães de família que poderiam ter escolhido o caminho da marginalidade, hoje vive dias difíceis. No final da semana passada, entretanto, surgiu uma nova luz no final do túnel, que pode trazer melhores dias à associação e às criança e adolescentes, os grandes beneficiários da organização. A CODEVASF- Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, através de uma emenda parlamentar, doou à ACACEC, 10 máquinas de costura, 400 metros de tecidos e acessórios para a montagem de uma pequena indústria de confecção, além de equipamentos para a montagem de uma moderna padaria.

Uma padaria completa também chegou à ACACEC e agora precisa de recursos para ser instalada

O sonho de Edmilson Carvalho, que na juventude foi padeiro na melhor panificação da cidade, é produzir pães sem aditivos químicos para atender aos alunos da ACACEC e vender o excedente, gerando renda para a manutenção da entidade. Montar também uma pequena fábrica de confecções, que além de gerar renda, servirá, assim como a padaria, para a formação de mão de obra. Para isso, é necessário conseguir, através doações, o dinheiro para a instalação desses equipamentos.

 

Há também a necessidade de se montar um infocentro, reorganizar a biblioteca e recriar a sinfônica, já que a associação conta com diversos instrumentos musicais ainda encaixotados.

Apesar de enfrentar problemas de saúde e a falta de recursos financeiros, Carvalho está confiante na boa vontade do povo de Euclides da Cunha e até da Bahia, para manter vivo o projeto que ocupa boa parte da sua vida e dá uma enorme contribuição à sociedade com esse apoio aos jovens menos afortunados.

 

 

“Conto com todos vocês para retomarmos as ações da ACACEC. Vamos ensinar corte e costura, montar nosso infocentro, nossa sinfônica e fazer pão, tendo como ingrediente principal, o amor”, afirma Edmilson.

 

 

 

Pois é Edmilson, “a felicidade de grandes homens consiste em levar amor e solidariedade a quem necessita”.

Como você pode contribuirCom apoio de Jackson Bike, a ACACEC está rifando uma Bicicleta Houston Foxer Hammer 21 Marchas Aro 26. O Sorteio será feito no dia 19 de setembro, aniversário de Euclides da Cunha. Os bilhetes custam apenas R$10 e podem ser adquiridos através do WhatsApp 75 99998-0666 e 75 99954-0254.

 

 

VOCÊ TAMBÉM PODE FAZER UMA DOAÇÃO ATRAVÉS DO PIX 06080636 0001 77, CNPJ DA ACACEC.

 

                                                                                               By Celso Mathias

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1 comentário

  1. Programas como esse já não existem vc mais.
    Qdo estudante, em Salvador, nos anos 60 o professor Adroaldo Ribeiro Costa, fazia um trabalho voltado para atender a criança.
    Não sei nem lembro como funcionava.
    Parabéns ao Edmilson que ainda continua tentando levar à frente seu projeto.

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